A lenda de Hiram Abiff e como se deu a origem da Maçonaria.


Salomão e Hiram Abiff


A lenda começa afirmando que David, rei de Israel acumulou tesouros para fazer um templo ao GADU, mas foi seu filho Salomão faze-lo, pois ele David, desviou-se do caminho da Virtude, pela vaidade, orgulho, a ponto de considerar-se o rei da justiça. Isso o afastou de tal missão. Salomão então resolveu pedir auxílio ao seu vizinho Rei de Tyro que lhe enviou Hiram Abif, um dos melhores artífices já conhecido, mostrando-nos que a aliança de corações e espíritos puros e desinteressados sempre nos leva a construção de grandes obras.




Quando essa aliança transforma-se em interesses gananciosos pela ambição e pela vaidade, tudo se põe a perder, o corpo é deserdado pelo espírito.
     
Então Hiram, símbolo do mestre e do conhecimento real, da verdadeira sabedoria, dividiu os obreiros em três categorias:

1ª. – Aprendizes: estudantes elementares do conhecimento mental e do domínio do 
corpo; aqueles que estudam e trabalham as formas exteriores e teóricas. 
 (Iniciáveis).

2ª. -  Companheiros: estudantes intermediários do sentir devocional e do domínio 
da alma; aqueles que comparam o geral e o particular, o visível e o invisível,
estabelecendo-lhes as relações e correspondências. (Iniciados).

3ª. – Mestres: conhecedores da síntese e de sua aplicação consciente e voluntária, 
da via espiritual e da ação desinteressada; servidores reais. (Adeptos).

E que para que ninguém viole e profane a ordem hierárquica confia a todos, conforme sua categoria, “palavra sagrada e de passe”, chave do conhecimento e do trabalho de cada um, de modo que os respectivos poderes e obras correspondentes somente sejam confiados àqueles que estiverem realmente capacitados para exercê-los  e executa-los. A isso chamamos, “aumento de salário”.

Templo


Então a construção foi iniciada. Tudo ia muito bem, porque os companheiros têm o desejo de ajudar os mestres e de fazerem-se mestres e os aprendizes respeitam a hierarquia. Contudo, quando a construção achava-se bastante adiantada, alguns companheiros acreditando, por vaidade ou ambição e achando-se mestres mesmo sem terem cumprido o tempo necessário, começaram a desunião.

Foram em número de quinze os companheiros que planejaram obter os segredos da iniciação pela violência, a tentação do orgulho que ameaça qualquer iniciado, por mais elevado que seja. Isso nos mostra que os que pretendem utilizar, mesmo temporariamente da força em benefício próprio, como acontece, aliás, com todos quando, imperfeitamente iniciados, se deixam empolgar pela vaidade e pelo egoísmo, subvertendo a ordem do “ternário sagrado”, interrompendo as relações de seqüência e ordem do trabalho iniciático, enveredando para a destruição pela queda na servidão implacável da fatalidade.

Dos quinze companheiros somente três, levam a cabo seu intento.

É muito notável que, para atacar Hiram, aguardam a hora em que vá orar, quando os trabalhadores comem e descansam. Símbolo de que a grande maioria esquece, menospreza, ou descuida da parte devocional ou espiritual da vida para comer e descansar, imagem do desinteresse, da indiferença e da preguiça.

Cada um dos três maus companheiros fere sucessivamente o Mestre, o Espírito o conhecimento, atacando às portas do próprio Templo.

O primeiro J\ ,  com uma régua na garganta, simbolizando a “ignorância”, sempre pretensiosa e que, não podendo obter a Revelação, corrompe a verdade, atacando-a em sua forma, na sua doutrina exterior e alegórica – Verbo – Garganta.

O segundo J\ , com um esquadro no peito, simbolizando a “mentira”, passo mais grave que a anterior, pois o ignorante deforma a verdade inconsciente, mas o mentiroso a corrompe deliberadamente. É o inimigo mais perigoso do plano médio,

Mente por fanatismo, ilude-se e mente a si mesmo, por vaidade ou por desejo prematuro de saber o que ainda não merece conhecer; mente aos demais para parecer mais sábio ou mais santo do que pensa que é. É a imagem do político deformado a justiça em proveito próprio, do mau sacerdote corrompendo o dogma para fins matérias, do iniciado prostituindo a verdade por interesse, vaidade ou ambição de poderes. Todos estes atacam a verdade no peito, isto é, já não em sua forma, como o anterior, senão que em sua vida, em seus efeitos, em suas aplicações, em suas leis.



O terceiro J\ , com um malho na cabeça, é a imagem dos inimigos plenamente conscientes, conhecedores da verdade e que a deformam por “ódio ao bem”, são os cultuadores do mal, as associações venais ou corrompidas, que  atacam   a verdade,
já não em sua forma, nem em sua vida ou lei, mas em seus próprios princípios ocultos, essenciais e fundamentais, como acontece nas épocas em que imperam as superstições e as perseguições aos iniciadores.

O ignorante é prejudicial a si mesmo e ao seu semelhante na vida diária, principalmente nos aspecto material e prático.

O mentiroso, o mal intencionado, fere ainda mais as bases morais da sociedade, do individuo e da evolução.

O vingativo, o diabo humano, trata de ferir a própria divindade, seja negando-a, seja deformando todas as suas manifestações, para procurar substituí-las pela deificação do mal.

Esses ataques, à forma, à lei ou à vida e finalmente ao principio da verdade, produzem a morte de Hiram. A revelação foge do lugar em que não é possível traduzir-se, como devia.

Convém notar que o Mestre é ferido, sucessivamente, com a régua, com o esquadro e com o malho, significando que os ataques a Verdade Real se processam reduzindo-a primeiramente às medidas convencionais e a seguir subordinando a
convenções e preconceitos, às formulas e silogismos, à régua de vinte e quatro polegadas; para depois disso separá-las em partes divergentes – o esquadro – estabelecendo os conflitos entre a razão e a fé, a religião e a ciência; e, finalmente, esmaga-la sob o malho do materialismo, das ambições temporais de predomínio político, acadêmico, religioso, econômico e de outras formas de perturbação do equilíbrio social e moral do homem.

Assassinado Hiram, o seu cadáver foi transportado e enterrado à noite num monte distante, porque nas épocas de obscurantismo e de perseguições, os conhecimentos sagrados sepultavam-se a noite em lugares ermos e elevados somente acessíveis àqueles que se dispõe a procurá-los no silencio e na renuncia do egocentrismo rotineiro. Famoso ensinamento no qual se adapta a frase de Pitágoras: “Quando reina a injustiça o sábio cala e se afasta”.
Salomão, imagem da sabedoria e da santidade, preocupa-se pela ausência de Hiram, chefe espiritual de todos. Envia então, doze companheiros a sua procura, justamente aqueles que haviam  passado pela tentação e tinham-na vencido e que se haviam revelado sinceros e humildes por terem confessado sua participação no atentado.

Os doze companheiros ficaram divididos em quatro grupos de três indivíduos cada um, representando a imagem do homem carnal, (quatro é a forma concreta) consciente de seus três princípios constituintes (corpo, alma e espírito), isto é, conhecedores teóricos da doutrina que partem em busca da Verdade, acreditando que o conhecimento intelectual é uma pequena tentação vencida bastam para merecer tal premio eterno.

Um dos grupos seguiu por um rio em direção as montanhas, ou seja, partindo da civilização em que vivia e da vida externa a qual estava acostumado, foi rio acima, na “fonte da vida”, para achar o principio das coisas, o que não conseguiram.

Acharam, porém, os assassinos, o que em linguagem iniciática quer dizer: “quem busca a “Verdade”, muito antes de encontrá-la, terá que encarar em suas investigações as várias deformações e mutilações que sofreu no tempo e no espaço”.

Numa caverna ouviram as lamentações dos assassinos e seus remorsos pedindo castigo. Isso quer dizer que na busca acharemos as “causas” das deformações e veremos que elas mesmas trouxeram o castigo aos causadores, as sociedades,  e as nações que as cometeram.

Vimos também que os companheiros, sem terem achado Hiram (Verdade), capturaram os assassinos e os levaram a quem fizesse justiça. Isto nos mostra que o mais importante em uma das etapas da iniciação, é por em evidência as causas dos males sociais e individuais, conduzindo estas causas até as autoridades ou iniciados, para que possam corrigir o mal ou impedir a sua propagação.

Para isso é preciso “querer e ousar”, segundo nos revela a lenda.

Do ponto de vista individual, da evolução pessoal, é a imagem de temos de levar os culpados (paixões, erros, vícios, vícios, egoísmo, ambições e tudo mais que nos prejudica), ante o Juiz e Senhor (Consciência e Vontade) que assim, podemos corrigir e por barreiras às ações prejudiciais que impedem a revelação da Verdade.

Salomão o rei da justiça, fez aplicar a cada assassino à própria pena que cada consciência lhe fizera pedir.

Cumprida a lei de causa e efeito, Salomão envia novamente os doze companheiros, agora a procura do corpo de Hiram.

Depois de uma longa procura, os mesmos regressaram sem nada encontrar, imagem de que sua natureza demasiada humana e material, ainda não lhes permitiu descobrir os verdadeiros arcanos.

Com esse resultado, Salomão resolveu adotar providências mais enérgicas, enviando agora, nove mestres, não mestres nominais (grau três), mas mestres reais, nove correspondente a iniciação real, ao iniciado prudente. Estes sobem ao monte Moriá e, no segundo dia deparam com um ramo de árvore ainda verde, plantado num monte de terra recentemente revolvida, simbolizando que sempre há um sinal de ressurgimento da tradição.

Satisfeitos com os resultados, marcam o local com um ramo de acácia. Mas como verdadeiros mestres não tocam, dita Verdade. Respeitosamente velam, cobrem e vão entregar o segredo de sua fonte ao rei 

Salomão, único que pode autorizar o contato e o uso com a citada Verdade oculta.

Salomão ordena que tragam o corpo de Hiram a Jerusalém. Para cumprir tal missão de trazer novamente a Verdade invisível ao mundo material, os mestres  não vão como viajantes de humana busca, mas sim ritualisticamente revestidos de seus aventais, isto é, devidamente preparados, em plena posse de seus poderes e conscientes de suas funções. Vestidos de suas luvas brancas prova da pureza e desinteresse de suas ações, vão buscar algo para os demais e não para si mesmos, seja a de buscar o conhecimento, de chegar-lhe à intimidade de desenterrar Hiram, de revelar e restabelecer em forma ativa a Tradição desaparecida e reencontrada.

Altar


Chegando ao lugar onde Hiram descansa, tiram o véu, descobrem a fonte da vida e da morte e, ante seu corpo, levantam os braços e os deixam cair, exclamando: “Ah Senhor meu Deus!” Ao fazer isto também batem os pés no solo, para dar a entender que toda a parte dolorosa da busca da Verdade e do caminho da vida está somente no apego material terrestre das coisas.

Um dos mestres tratou logo de levantar o cadáver, segurando o dedo da mão direita e dizendo “B”, ou seja, invocando o “poder” da realização sobre o plano visível, mediante a vontade e a orientação, o mundo, a força social, mas teve que dar um passo atrás e soltar o dedo. Isto quer dizer que a verdade suprema não se revela aos que, embora sábios, querem mandar ou dirigir principalmente em face de realizações materiais.

Outro mestre trata de levantar o corpo de Hiram tomando-lhe o dedo e pronunciando:  “J”, isto é, invocando a força astral, o destino, as leis da Verdade em ação, mas fracassa, pois tem que soltar o dedo exclamando: “Moab\, ou seja, a carne de desprende dos ossos, ou ainda expressando que no mundo há transformações, ciclos e limitações, que algo morre, que se desprende e só “esqueleto” fica, ou seja, o principio imutável e imortal em sua essência.

É quando intervém o mais velho dos mestres (e Mestre dos Mestres, a experiência acumulada  feita presente ativo) dizendo que sem ele nada podem fazer, mas unindo seus esforços aos dele, a realização será obtida.

O Mestre dos Mestres toma em forma de g\ (total e fortemente), o pulso direito de Hiram, e num abraço que vai dos pés até o peito, ergueu o cadáver, numa identificação plena com o mestre desaparecido, imagem eloqüente da iniciação, que é identificação total do pensamento e da vontade humana com a tradição oculta, o esqueleto da Verdade divina ou sua manifestação.




O levantamento do cadáver de Hiram pelos três mestres oferece a transparente imagem de que foi preciso que o Mestre dos Mestres, (a Sabedoria Real) visse a necessária colaboração da Força e da Beleza, da mente e do coração, do homem e da mulher, da alma e do corpo, para permitir que o espírito imortal e de indeformável verdade penetrasse na “obra”.

Observa-se que a lenda não se refere ao destino dado ao corpo de Hiram, fato que não oferece interesse iniciatico, uma vez que um dos mestres havia se identificado com ele. Entretanto, como em toda alegoria iniciatica mesmo esse silencio é expressivo fazendo compreender que as revelações posteriores são sempre a continuação das anteriores que se revestem duma nova figura viva e renascem naqueles que quiserem viver nela.

No cerimonial da iniciação o novo mestre deve representar Hiram no túmulo, simbolizando as condições humanas perecíveis e do qual é tirado pelo Venerável, representante da Sabedoria. Esse simbolismo já agora individual mostra que a verdadeira iniciação se faz sempre depois da morte de todos os preconceitos e das noções convencionais aprendidas e que constituem o corpo físico, o cadáver de que se revestiu o entendimento. Então é quando o conhecimento verdadeiro, seja ou não personificado por um iniciador, toma o homem de desejo pela mão e o conduz ao caminho do mestrado.  

Também lembra que a experiência da vida, em seu caráter de conhecimento total, só e dado depois da morte, reafirmando o postulado maçônico e cristão da regeneração e da imortalidade, porque é sempre um novo homem que sucede o velho homem, as formas novas que sucedem e substituem as gastas e vencidas, a sucessão tradicional.

É por isso que se deve admitir que os antigos maçons, aqueles que adotaram “a acácia me é conhecida” como palavra de mestre, deviam conhecer o seu verdadeiro significado: “A imortalidade me é conhecida”.

Essa extraordinária lenda é uma síntese maravilhosa de missão do verdadeiro mestre e do modo como a Tradição se transmite e perpetua através dos tempos e sobre as ruínas das civilizações que se extinguem e desaparecem, cedendo lugar a outras modalidades de organizações e de convívio.

A tradição, do mesmo modo que o cadáver de Hiram, desprendendo-se a “carne”, a forma ou revestimento exterior, resta-lhe os “ossos”, a estrutura íntima, que se reveste de nova forma, de uma nova revelação, de um novo mestre.


A lenda de termina sem que se fale na volta do corpo de Hiram, da sua ressurreição, da ressurreição de sua carne, forma ou cadáver, mas sim da identificação num íntimo abraço da figura morta com uma  nova forma viva, uma nova configuração, exterior:  “uma nova revelação”.                                 

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